FELIPE SELIGMAN
ADRIANO CEOLIN
da Folha de S.Paulo, em Brasília
Membros da CPI das ONGs apostam na investigação da Finatec (Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos), entidade sem fins lucrativos de apoio à Universidade de Brasília (UnB), para entrar no mundo dos cartões de crédito corporativos do governo e, assim, esquentar os trabalhos da comissão.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) deve apresentar nesta semana requerimentos pedindo informações ao Ministério Público do Distrito Federal e à UnB, e também a convocação do reitor da instituição, Timothy Mulholland, e de funcionários da Finatec.
O Ministério Público afirma que a Fundação empregou recursos, inicialmente destinados à pesquisa científica e tecnológica, para reformar o apartamento funcional do reitor da UnB. Segundo promotores que investigam o caso, a instituição teria gasto R$ 470 mil na compra de móveis luxuosos, como uma lata de lixo de R$ 990.
Em nota, a UnB alega que a decisão de "mobiliar [o apartamento] adequadamente, foi tomada tendo em vista os interesses maiores da Instituição".
"Desde o início da comissão, existe uma espécie de operação abafa por parte da base aliada para não deixar que as investigações ocorram", diz Álvaro Dias. "Mas os fatos recentes derrubam qualquer argumento para não aprovar os requerimentos. Ao convocar o reitor, certamente abordaremos os cartões corporativos".
Para o senador Sibá Machado (PT-AC), investigar o uso dos cartões na comissão seria uma "afronta a uma nova CPI que se propõe exatamente para isso".
A UnB é, historicamente, a campeã de gastos com os cartões. Só em 2007 despendeu R$ 1,35 milhão, 36% do total das universidades federais brasileiras (R$ 3,7 milhões).
Só o o assistente de Timothy Mulholland, Wilde José Pereira, utilizou seu cartão para compras em padarias, supermercados e em loja de artigos para festas. Ele afirma que os gastos referem-se à "homenagens e encontros" com autoridades, como ministros, parlamentares e embaixadores.
Dados do TCU, que já estão em posse da CPI, também mostram que a UnB é a principal fonte de recursos da Finatec. Entre 2002 e 2007 a universidade repassou, de acordo com o tribunal, R$ 23,1 milhões à Fundação --30% de toda a verba recebida pela entidade no período.
Ainda segundo informações do TCU, entre as 50 ONGs que mais receberam recursos nos últimos anos, 20 são entidades ligadas ao meio acadêmico, sempre geridas por professores universitários.
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